Antes de saber reconhecer se o idoso é ou não frágil é importante compreender o que seria a Síndrome da Fragilidade.
Essa é uma condição que vem sendo estudada nos últimos 50 anos e o conceito vem se modificando e ampliando ao longo do tempo.
Conceito inicial: o idoso frágil era basicamente aquele que necessitava de auxílio para realizar atividades diárias de vida tais como tomar banho, vestir-se, usar o vaso sanitário, alimentar-se, tomar remédio, preparar refeições, controlar finanças e outros.
Ampliação do conceito: com o decorrer dos anos, principalmente nas últimas duas décadas, o conhecimento científico foi se ampliando e vários mecanismos fisiopatológicos (desregulação neuroendócrino, desregulação imunológica, e a sarcopenia) foram sendo compreendidos na gênese da Síndrome da Fragilidade.
Fonte: http://dx.doi.org/10.1590/1809-9823.2014.12162
Pode-se dizer então que o idoso se torna frágil (síndrome da fragilidade) quando há uma redução da reserva homeostática e/ou da capacidade de adaptação às agressões biopsicossociais e consequentemente maior VULNERABILIDADE ao declínio funcional. Para elucidar e ilustrar melhor esse conceito o comparamos com um espiral em descendente de perda fisiológica toda vez que o indivíduo frágil está diante de um evento estressor (infecções, quedas, hospitalizações, quedas, medicamentos, baixa ingesta alimentar) ele descende na espiral e não retorna ao patamar anterior.
¨Vamos a um exemplo prático para compreender quem é o idoso frágil?”
Mas primeiramente gostaria que refletissem sobre essa questão:
Vocês já observaram porque alguns idosos não se recuperam ao seu estado basal prévio após, por exemplo, à uma infecção urinária, ou à pneumonia ou a outro evento estressor?
Ex 1: Imagine um senhor 70 anos que iniciou quadro de prostração, confusão mental e seus familiares o levaram ao pronto atendimento para avaliação médica. Foi realizado exames e avaliação física e verificado que esse senhor possuía infecção urinária, sendo orientado tratamento medicamentoso, mas não necessitando de internação. Porém, a filha relata que mesmo após o término do tratamento com os antibióticos seu pai não havia se recuperado por completo, estava mais cansado, havia perdido peso, estava mais lentificado e enfraquecido.
Ex 2: Agora imagine um idoso também com 70 anos que iniciou quadro de desconforto ao urinar e procurou atendimento médico e verificado que também possuía infecção urinária sendo orientado o mesmo tratamento medicamentoso que o exemplo descrito acima. Após o início do tratamento esse paciente já apresentava melhora dos sintomas e retornou às atividades que realizava previamente, ou seja, retornou ao seu estado basal sem alteração.
Qual a diferença entre esses dois exemplos??
No exemplo 1 o idoso apresentava Síndrome da fragilidade, ou seja, por vários motivos ele possuía uma reserva homeostática menor que o idoso do exemplo 2 (idoso robusto) e fez com que esse primeiro não se recuperasse por completo e ficasse mais dependente funcionalmente.
Importante frisar que a SÍNDROME DA FRAGILIDADE NÃO É SINÔNIMO DE IDADE AVANÇADA, DOENÇAS OU INCAPACIDADES.
Como fazer diagnóstico do Idoso frágil?
O diagnóstico é clínico.
O melhor critério para se definir se o idoso é frágil ou se ele se encontra em risco de fragilização é fazer uma avaliação geriátrica ampla.
Porém há testes (instrumentos de rastreio, como por exemplo o IVCF*) que identificam os idosos que possuem alto risco de fragilização e o idoso frágil na comunidade, para a partir de então direcionar esse idoso a um acompanhamento especializado (geriatra e equipe multiprofissional).
*Fonte: https://ivcf20.org/
Então qual papel do geriatra ?
O geriatra irá fazer uma avaliação completa e ampla para verificar em quais quesitos o idoso se encontra mais vulnerável e iniciar intervenções necessárias.
Irei transcorrer brevemente abaixo o que avaliamos durante às consultas para que vocês possam compreender a natureza multifatorial que culmina no idoso frágil (síndrome da fragilidade):
- Histórico social: avaliado quais condições socioeconômicas em que o idoso se encontra (se apresenta ou não uma vulnerabilidade social). Ainda, infelizmente, é muito comum em nosso meio que os idosos possuam condição social precária, com baixa ingesta alimentar, higiene precária, ou o ambiente físico inapropriado para suas condições clínicas. Muitas vezes também observamos que esse idoso possui boa condição econômica, porém possui o que chamamos de insuficiência familiar (não possui familiares ou quando possui esses não o auxiliam devido um vínculo familiar prejudicado).
- Avaliação das atividades diárias instrumentais e básicas: avaliamos o que o idoso consegue ou não fazer sozinho e se não conseguir realizar alguma das atividades compreender o porquê.
- Cognição: avaliamos se o idoso apresenta algum déficit cognitivo (ex: demências)
- Humor: verificamos se possui depressão, ou alguma doença mental.
- Mobilidade: é avaliado se o idoso apresenta dificuldade de locomoção (analisando também a velocidade da marcha, se apresenta alguns sinais de sarcopenia), se apresenta quedas de repetição e por quais motivos, se apresenta dificuldade para reter urina ou fezes.
- Comunicação: verificamos se idoso possui alteração visual, auditiva, ou distúrbio da fala.
- Nutrição: avaliamos se apresenta subnutrição/desnutrição
- Comorbidades (doenças): doenças que o idoso possui
- Revisão de medicamentos: analisamos quais os medicamentos que o paciente faz uso e verificamos as possíveis interações medicamentosas e refletimos sobre a necessidade ou não de cada um deles.
Dra Graciele Fortes França Bastos– CRMMG 55503 / RQE 52960
Endereço: Rua Gonçalves Dias 1181, sala 1008, bairro Funcionário. BH/MG
Qual tratamento para Síndrome da Fragilidade ?
A detecção precoce e a prevenção ainda são o melhor tratamento.
Uma vez diagnosticado que esse idoso é frágil ou se encontra em risco de fragilização é necessária uma intervenção/acompanhamento MULTIPROFISSIONAL.
É de suma importância o acompanhamento do nutricionista para avaliação da quantidade do aporte calórico-proteico específico para cada idoso.
Fundamental o acompanhamento com fisioterapeuta ou educador fisíco para orientar os exercícios a serem realizados para ganho de massa muscular e principalmente da força muscular.
Os estudos mostram que as intervenções que combinam nutrição + exercícios resistidos são as têm desfechos mais positivos (melhora da funcionalidade do idoso, ou da reversão de componentes da fragilidade ou do próprio status da síndrome.
Outras intervenções com os demais profissionais de saúde são importantes e complementares,e dentre eles se encontram: fonoaudiólogo, enfermagem, psicólogos, terapeuta ocupacional, dentistas e outros.
Se você ainda ficou com dúvida sobre o assunto ou quer saber se seu familiar idoso se encontra em risco de fragilização ou já é frágil agende consulta com GERIATRA para iniciar acompanhamento e orientações a você e seu familiar.
Dra Graciele Fortes França Bastos– CRMMG 55503 / RQE 52960
Endereço: Rua Gonçalves Dias 1181, sala 1008, bairro Funcionário. BH/MG
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- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9589704/
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